Fonte: http://amagiadeeducar.spaceblog.com.br/614008/Autonomia-Limite-na-ponta-da-lingua/
Autonomia para Piaget
Jean Piaget, na sua obra discute com muito cuidado a questão da autonomia e do seu desenvolvimento. Para Piaget a autonomia não está relacionada com isolamento (capacidade de aprender sozinho e respeito ao ritmo próprio - escola comportamentalista), na verdade entende Piaget que o florescer do pensamento autônomo e lógico operatório é paralelo ao surgimento da capacidade de estabelecer relações cooperativas.
Quando os agrupamentos operatórios surgem com as articulações das intuições, a
criança torna-se cada vez mais apta a agir cooperativamente.
No entender de Piaget ser autônomo significa estar apto a cooperativamente construir o sistema de regras morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas pelo respeito mútuo. Jean Piaget caracterizava "Autonomia como a capacidade de coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto do respeito recíproco". (Kesselring T. Jean Piaget. Petrópolis: Vozes, 1993:173-189). Para Piaget (1977), a constituição do princípio de autonomia se desenvolve juntamente com o processo de desenvolvimento da autoconsciência.
No início, a inteligência está calcada em atividades motoras, centradas no próprio indivíduo, numa relação egocêntrica de si para si mesmo. É a consciência centrada no eu.
* Nessa fase a criança joga consigo mesma e não precisa compartilhar com o outro. É o estado de anomia. A consciência dorme, diz Piaget, ou é o indivíduo da não consciência.
No desenvolvimento e na complexificação das ações, o indivíduo reconhece a existência
do outro e passa a reconhecer a necessidade de regras, de hierarquia, de autoridade. O controle está
centrado no outro.
O indivíduo desloca o eixo de suas relações de si para o outro, numa relação
unilateral, no sentido então da heteronomia. A verdade e a decisão estão centradas no outro, no
adulto. Neste caso a regra é exterior ao indivíduo e, por conseqüência, sagrada A consciência
é tomada emprestada do outro. Toda consciência da obrigação ou do caráter
necessário de uma regra supõe um sentimento de respeito à autoridade do outro.
Na autonomia, as leis e as regras são opções que o sujeito faz na sua convivência social pela auto-determinação. Para Piaget, não é possível uma autonomia intelectual sem uma autonomia moral, pois ambas se sustentam no respeito mútuo, o qual, por sua vez, se sustenta no respeito a si próprio e reconhecimento do outro como ele mesmo.
A falta de consciência do eu e a consciência centrada na autoridade do outro impossibilitam a cooperação, em relação ao comum pois este não existe. A consciência centrada no outro anula a ação do indivíduo como sujeito. O indivíduo submete-se às regras, e pratica-as em função do outro.
Segundo Piaget este estágio pode representar a passagem para o nível da cooperação,
quando, na relação, o indivíduo se depara com condições de possibilidades de
identificar o outro como ele mesmo e não como si próprio. (PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento.
Porto: Rés Editora, 1978)
. "Na medida em que os indivíduos decidem com igualdade - objetivamente ou subjetivamente, pouco importa
- , as pressões que exercem uns sobre os outros se tornam colaterais. E as intervenções da razão,
que Bovet tão justamente observou, para explicar a autonomia adquirida pela moral, dependem, precisamente,
dessa cooperação progressiva.
De fato, nossos estudos têm mostrado que as normas racionais e, em particular, essa norma tão
importante que é a reciprocidade, não podem se desenvolver senão na e pela cooperação.
A razão tem necessidade da cooperação na medida em que ser racional consiste em 'se' situar
para submeter o individual ao universal.
O respeito mútuo aparece, portanto, como condição necessária da autonomia, sobre o
seu duplo aspecto intelectual e moral. Do ponto de vista intelectual, liberta a criança das opiniões
impostas, em proveito da coerência interna e do controle recíproco. "Do ponto de vista moral,
substitui as normas da autoridade pela norma imanente à própria ação e à própria
consciência, que é a reciprocidade na simpatia." (Piaget, 1977:94). (PIAGET, Jean. O julgamento
moral na criança. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1977).
Como afirma Kamii, seguidora de Piaget, "A essência da autonomia é que as crianças se
tornam capazes de tomar decisões por elas mesmas.
Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar
os fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação. Não pode haver
moralidade quando alguém considera somente o seu ponto de vista.
"Se também consideramos o ponto de vista das outras pessoas, veremos que não somos livres para
mentir, quebrar promessas ou agir irrefletidamente" (Kamii C. A criança e o número. Campinas:
Papirus).
Kamii também coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. Para ela, a autonomia significa o indivíduo
ser governado por si próprio. É o contrário de heteronomia, que significa ser governado pelos
outros.
A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma
para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista.